Britânica cruza «soul» com «reggae» num disco seguro

Há canções que pegam mesmo no Verão e, neste incerto período de 2008, houve uma canção que pareceu condensar o ritmo negro que se quer fazer convidado na lista de um sarau de dança, com a rapidez expectável num período pouco dado a maiores aprofundamentos. A canção «American Boy», a meias com o omnipresente Kanye West, é um excelente cartão de visita para o segundo trabalho da britânica Estelle, «Shine». É até acima do nível seguro mas nem sempre muito inventivo de um disco que se ouve de um trago, sempre a pensar em outras heranças e referências da música «soul».
O nome de Estelle não é de todo estranho para os mais atentos da música comercial de motivações negras, mas a sorte não a escolheu à primeira. Verdadeiro “patinho feio” que se transforma em cisne cool da temporada, a artista foi praticamente ignorada com o seu disco de estréia, «The 18th Day», que não deixou saudades, mesmo no Reino Unido, não indo além de lugares medianos na lista de trabalhos discográficos.
Perante a pouca aceitação, havia duas hipóteses: tentar outra vez pelos meios próprios e deixar-se guiar pela sorte ou juntar-se a produtores de renome da música norte-americana e ter o sucesso quase garantido. Pois bem, Estelle não esteve pelos ajustes e não se fez rogada perante o convite de ser a primeira celebridade a ser lançada pela editora de John Legend, a Homeschool Records.

E assim se dá uma volta a uma carreira, passando-se de cantora facilmente esquecível a promessa a seguir com toda a atenção. Além de canções possantes, coloridas e muito cosmopolitas, a artista também mudou a imagem, mas sem seguir os passos óbvios de quem quer ser o próximo grande nome da música pop. Estelle tem a mais-valia de ser honesta nos seus propósitos e não perder as rédeas de um disco que, apesar da mãozinha de Legend, Kanye West, Will.I.Am, Wycleaf Jean ou da voz única dos Gnars Barkley, Cee-Lo, é assumidamente seu.
Não tem mal, às vezes, repensar tudo para acertar de vez. Já há nomeações por todos os lados e a referida canção «American Boy» continua a subir a lugares no top mais ambicionado, o dos Estados Unidos. O disco «Shine» é, aliás, pródigo em músicas amigas das playlists como a balada «reggae», «No Substitute Love», ou o dueto com John Legend no singelo «You Are».
Contudo, Estelle dá-se melhor nos ritmos de festa e o disco diz logo ao que vem com «Wait a Minute (Just a Touch)», de onde se denota o cruzamento pretendido entre «soul» e «hip hop», numa série de artifícios melódicos que funcionam para criar ambiente.
O «reggae» é, ainda assim, o que mais sobressai deste trabalho sofisticado, como se comprova em «Come Over», balada que se rege pelas batidas solares deste tipo de música, entretanto convenientemente refeita num dueto com Sean Paul.
Outros pontos altos? O festivo «Pretty Please (Love Me)» arrisca-se a ser outro «single» ou «In the Rain».

Estelle vai ser uma presença assídua das galas de música pop dos próximos tempos e vem provar que nem só de Amy Winehouse se faz a nova soul britânica. É certo que não chega nem perto ao poder vocal e ao carisma da cantora de «Back to Black», mas também sabe-se que não é preciso ser-se perfeito para se conseguir um bom disco. «Shine» fá-la brilhar.
Pedro Vieira
Track List:
1. Wait a Minute (Just a Touch)
2. No Substitute Love
3. American Boy
4. More Than Friends
5. Magnificent
6. Come Over
7. So Much Out the Way
8. In the Rain
9. Back in Love
10. You Are
11. Pretty Please (Love Me)
12. Shine

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