terça-feira, 28 de outubro de 2008

Yella - Herdeiro de «Nosferatu».


É um filme muito bom, muito rigoroso. O que é se anda a fazer na terra de Wim Wenders? Só por isso já merece este filme a nossa atenção. (Vai também estrear em breve outro filme de um alemão, Fatih Akin, isto é, de um turco-alemão: e é interessante que um alemão tenha esse nome.)

«Yella» é um filme muito bom e muito rigoroso, mas não é um filme que faça bem. Pelo menos, imediatamente. É um filme de massagem, como diria McLuhan. Massaja o espectador que o merece, ou o espectador que precisa. Há efeitos que vêm logo, mas há outros que só vêm depois.

Às vezes é preciso louvar obras sombrias como «Yella», não pela sua construção realista (pergunta: será que o realismo é realista?), mas por erguerem uma espécie de sonho acordado que reflete um interior coletivo. Neste sentido, «Yella» é herdeiro de «Nosferatu».

A comparação acima é certamente exagerada, em vários sentidos. Mas há exageros que estão certos: as razões que aguentam esteticamente este filme têm que ver com essa ligação. Porque «Yella» não é apenas uma história da ambição, do mal-estar e do medo de uma «personagem». Tal como «Nosferatu»...

É sintomático que todo (quase todo) o filme seja o filme de uma personagem morta - o que ficamos a saber num final que nos recusamos sempre antecipar. Mas isso não interessa, como bem parece saber Petzold, porque a vida e o futuro perspectivado já no passado da personagem têm outro tempo, estão antes e depois da sua morte. E como em qualquer bom filme, não é a intriga o principal.

Mas não é um filme fácil, isso não é. Está cheio de boas coisas: tem uma atriz extraordinária (Nina Hoss, que foi por isso premiada com o Urso de Prata no Festival de Berlim, 2007) e tem uma realização rigorosíssima, que torna imediatamente fantástica (perturbadora) qualquer imagem que, à primeira vista, surge com um caráter indiferente, televisivo. Tem algo de Bresson e de Kaurismaki, que não são indiferentes nem televisivos, mas com um gelo próprio. Não é televisão, claro: é cinema. Atente-se na alternância de planos aproximados e gerais em paisagens naturais.

Não aquece, é gelo, mas causa impressão. Mete-nos dentro do buraco apertado que o dinheiro constrói na sociedade contemporânea... Pois, mais isso liga-se à intriga. Há que ver o filme.

Ano de produção:2008
Data de estreia:2008-10-02
Título Original:Yella
Realizador:Christian Petzold
Argumento:Simone Baer, Christian Petzolt
Elenco:Nina Hoss, Devid Striesow, Hinnerk Schönemann

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