Os principais mentores do filme «Ensaio sobre a Cegueira» estiveram presentes esta tarde na FNAC do Chiado, onde apadrinharam o lançamento do livro «Diário de Blindness», de Fernando Meirelles. José Saramago, o argumentista e actor Don McKellar, o produtor Niv Fichman e, o próprio realizador Fernando Meirelles, deram uma conferência conjunta onde falaram sobre a adaptação cinematográfica da obra do escritor português.
A grande questão era se Saramago tinha aprovado o filme. «Emocionei-me muito ao ver o filme. Vi uma versão que ainda não era a final, por isso espero com ansiedade a estreia de "Ensaio sobre a Cegueira"», confessou o prémio Nobel da Literatura.
José Saramago destacou a cena que mais o emocionou: «O momento quase instantâneo em que se vê as mulheres das camaratas a passarem numa janela». «Naquele momento vi a história das mulheres, aparentemente submissas», acrescentou.
Fernando Meirelles, que está em Portugal para a antestreia do filme, a decorrer na noite de terça-feira, dia 28, nos cinemas do Freeport, em Alcochete, referiu que esta foi a «adaptação possível». «Eu quero crer que o filme toca em muitos aspectos do livro. Adoraria ter envolvido mais José Saramago, mas ele quis dar-me espaço para não condicionar o meu trabalho com suas ideias», ressalvou o realizador brasileiro, responsável por filmes com «O Fiel Jardineiro» e «A Cidade de Deus».
Polémica nos EUA
Saramago e Fernando Meirelles aproveitaram ainda a ocasião para falar sobre a polémica que o filme provocou nos Estados Unidos, onde foi mal recebido por uma associação de cegos, que classificou o filme de violento para os invisuais. «Quase parece que nunca se fez um filme violento. Nos EUA deve haver fábricas de sangue artificial. O filme é violento por uma questão de lógica, dado que a vida está organizada no sentido da vista e se de repente as pessoas cegam, a estrutura social vai toda abaixo e gera-se o caos», retorquiu José Saramago.
Já Fernando Meirelles foi mais contido nas palavras, justificando as opções técnicas a que recorreu. «Procurei representar a violência de uma forma não muito gráfica. A própria cena da violação é mais sugerida do que mostrada. Usámos ainda imagens muito brancas e pouco focadas, de modo a colocar o espectador neste mundo que não é palpável», defendeu o realizador brasileiro.
«Ensaio sobre a Cegueira» é um filme com atores de várias raças. «A ideia foi formar um elenco multirracial, porque este é um problema da humanidade». A história é sobre o homem. Este foi um desafio enorme para os actores porque tinham de ficar de olhos abertos mas desligados, sem vida. Fizemos vários exercícios para se adaptarem. Torturei os meus actores [risos]», contou.
Sobre o «Diário de Blindness», Meirelles contou que o livro nasceu das suas reflexões diárias escritas no blog que acompanhou a realização do filme. «Foi uma espécie de diário, o que me ajudou a pensar. Era um texto escrito para Internet. Fico até constrangido de o estar a lançar aqui ao pé de um grande escritor [risos]», disse o realizador.
A cegueira na sociedade atual
A cegueira branca da qual o filme fala é uma cegueira que afeta a sociedade atual. Esta é a ideia de José Saramago: «Estamos quase sempre cegos. Às vezes não nos apetece pensar mais além do que a nossa própria existência. O ideal era que todos fôssemos cidadãos ativos», afirmou.
O filme baseado na obra de Saramago tem no elenco Julianne Moore, Danny Gloover, Mark Ruffalo, Alice Braga, Gael García Bernal, Sandra Oh, Maury Chakin e os japoneses Yusuke Yseja e Yoshino Kimura.
«Ensaio sobre a Cegueira» chegou às salas de cinema portuguesas a 13 de Novembro, mas antes estreou nos cinemas UCI Freeport em Alcochete, numa cerimônia ao estilo de Hollywood.

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