quinta-feira, 11 de setembro de 2008

«Zé do Caixão» Encarnação do Demônio

Quase meio século depois é importante dizer que José Mojica Marins, agora com 72 anos, não se «enterrou» no regresso do «Zé do Caixão». no filme «Encarnação do Demônio», que encerrou a trilogia do personagem do terror.
E o próprio filme traz à memória as duas primeiras obras de «Zé do Caixão», com vários flashbacks inseridos no meio da longa-metragem. Esta foi a maneira usada por José Mojica Marins para não deixar «morrer» a primeira parte da trilogia e 'fêz' de maneira muito inteligente e eficaz.
«Zé do Caixão», com a capa preta e o chapéu característicos, para gáudio de todos.
Demorou 42 anos a voltar à personagem, mas Zé do Caixão, embora mais velho, aparece igual a si próprio. A postura do ator mantém-se linear ao longo da produção. O filme em si parece dividido por alguns picos de terror. Tal como Zé do Caixão havia contado em entrevista que muitas das cenas do filme são reais, o que «agarrou» a platéia.
Pessoas penduradas por ganchos, três mil baratas reais e bocas cosidas são «mais-valias» numa produção que leva ao limite a violência e o sadismo.
O argumento do filme, alterado dezenas de vezes até à última versão, mostrou inteligência na forma como foi gerido o regresso do personagem, após ter estado preso e o realizador encontrou um final consensual para Zé do Caixão, respeitando à risca a história da personagem.
«Encarnação do Demônio» é, acima de tudo, um filme de insistência e promete tornar-se num marco do terror brasileiro, especialmente pelos contornos aos quais está associado.
Outro dos pontos fortes do filme é a presença de atores como Milhem Cortaz, Helena Ignez e Luiz Melo que, apesar de terem participações menos diretas, dão uma enorme segurança e consistência à longa-metragem.
Entrevista com «Zé do Caixão»
Conversa com o mestre brasileiro do terror
Demorou 42 anos de concluir a trilogia de Zé do Caixão. No ano em que estréia o tão aguardado filme «Encarnação do Demônio», José Mojica Marins, vulgo Zé do Caixão.
O mestre brasileiro de filmes de terror disse que sentiu o alívio do realizador após finalmente ter concluído o projeto ao qual dedicou a vida. «Enfrentei perseguições de padres, censura, ditadura e críticos que consideravam as minhas obras de lixo. Atualmente são esses mesmos críticos que as elogiam como culto», disse José Mojica Marins.
«À meia-noite levarei sua alma» (1964) e «Esta noite encarnarei no seu cadáver» (1968) foram os primeiros dois filmes de uma trilogia com final «amaldiçoado», segundo as palavras do próprio realizador. «Encarnação do Demônio», que conta a história de uma obsessão de Zé do Caixão em gerar o filho perfeito, foi escrito nos anos 1960, mas sofreu diversos imprevistos, entre os quais a morte de vários produtores e de um ator principal.
O objetivo de finalizar a trilogia de Zé do Caixão fê-lo ter uma passagem pelo cinema pornográfico. «Fiz o filme «24 Horas de Sexo Ardente» porque um produtor disse que faria a «Encarnação do Demônio», caso eu fizesse um filme que desse muito dinheiro. Usei o sensacionalismo ao pegar num pastor alemão de um português e coloquei um anúncio a pedir mulheres feias para zoofilia, a primeira vez que algo do gênero seria feito no Brasil. Apareceram mais de trezentas mulheres. O filme acabou por dar muito dinheiro, mas o produtor não cumpriu com a palavra», contou.
Zé do Caixão, de volta com 72 anos
Mas afinal, quem é Zé do Caixão? José Mojica Marins, agora com 72 anos, traça o perfil de um personagem que coabita com o realizador na sua própria existência. «É um personagem que se tornou muito forte no Brasil, ultrapassando barreiras. Quer ser imortal, por isso procura a mulher ideal que lhe dê o filho perfeito», resume o realizador.
«Encarnação do Demônio», que por estes dias está a ser exibido no Festival de Veneza, marca também o regresso de Mojica Marins à rotina de um ator. «Foi a coisa mais fácil de todas. Nos dois primeiros dias estava um pouco inibido. A equipa achava que eu não agüentava, mas depois foram eles que não agüentaram. Fiz cenas muito reais. A minha esposa contracena com três mil baratas verdadeiras, há pessoas penduradas pró um gancho e coseu-se também uma boca», acrescentou.
Inspiração chega com os pesadelos
O realizador revelou ainda que é dependente de um produto que ajuda os veteranos de guerra a dormir. Para si, funciona como despertador de sonhos, ou melhor, pesadelos: «os pesadelos trazem-me inspiração e foi através dos pesadelos que cheguei à história do Zé do Caixão».
José Mojica Marins, que já realizou mais trinta filmes em mais de cinqüenta anos de carreira. Sua filha Liz Marins, também é realizadora de filmes. O mestre do terror passou por quatro casamentos, dos quais teve 7 filhos que já lhe deram 11 netos.
Visita cemitérios, vive diariamente com a morte mas quando questionado sobre o que mais o assusta no mundo, a resposta é surpreendente. «O dia seguinte!» soltou com um ar decidido e, com a simplicidade que o caracteriza, explicou: «A violência no mundo é cada vez maior e eu tenho muitos netos e muitos filhos, por isso tenho medo por eles».

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