
Lynch passa pelo Brasil para divulgar seu novo livro
Depois de arrebatar espectadores de todo o mundo com filmes sombrios como “Veludo azul”, “O homem elefante” e “Cidade dos sonhos”, além da série de sucesso “Twin Peaks”, o cineasta americano David Lynch chega ao Brasil, pela primeira vez, para falar de um assunto nada sombrio: a meditação transcendental. Com simpatia e doçura surpreendentes para aqueles que conhecem sua obra, Lynch deu entrevista à imprensa brasileira na tarde desta segunda-feira (4), em um hotel no Leblon, Zona Sul do Rio. “Um artista não precisa sofrer para mostrar sofrimento, ele só tem que entender o sofrimento. A intuição é o principal instrumento de um artista. Sou uma pessoa feliz por dentro, mas minhas histórias refletem o mundo real, e vivemos num mundo negativo”, diz o diretor, que pratica meditação desde os anos 70 e atribui a ela as idéias que deram origem a seus filmes. Viagens pelo mundoDepois do Rio, o diretor parte para São Paulo e Brasília, onde oferece palestras sobre o assunto e promove o lançamento de seu livro “Em águas profundas – criatividade e meditação”, de inspiração autobiográfica. Lynch prepara um documentário sobre suas viagens por mais de 15 países para divulgar essa sua faceta, digamos, espiritualista. “É uma técnica mental que ajuda a criatividade e abre a porta para um nível de vida mais profundo, o infinito, sem limites”, diz Lynch sobre a meditação transcendental. “Você pratica um mantra, que te coloca na base entre a matéria e a mente. De repente, tudo se expande e a vida fica muito boa.” Peixes e idéiasNa entrevista, assim como no livro, o diretor compara as idéias a peixes. “Se você quer pegar um peixinho, pode ficar em águas rasas. Mas se quer um peixe grande, terá de entrar em águas profundas”, afirma. “A primeira coisa de que você precisa é o desejo. Eu nunca tenho a idéia para um filme de uma vez, elas vêm em fragmentos.” O cineasta recomenda a meditação não apenas como método para a criação artística, mas também como caminho para alcançar a paz mundial. “Precisamos remover a negatividade do mundo. A paz não é só a ausência de guerra, é a ausência da semente da guerra, que é a negatividade.” Antes de deixar o país, no dia 14 de agosto, Lynch quer tentar se encontrar como o presidente Lula para uma reunião. “Gostaria de levar a meditação para todas as escolas brasileiras e de implantar uma universidade da meditação aqui”, diz. “Isso acabaria com o estresse entre os jovens e livraria o país da violência.” No setLynch conta que essa filosofia está presente nos bastidores de todas as suas filmagens. “Gosto de trabalhar num set feliz, como uma família. Acho que o set tem que ser um lugar seguro para o ator, onde ele possa se aprofundar. Acho que o medo e pressão prejudicam a criatividade e, conseqüentemente, prejudicam o trabalho.” O diretor também lembra o início de sua carreira artística, em que fez uma transição da pintura para o cinema. "Eu queria ser um pintor e somente um pintor. Até o dia em que eu estava no meu estúdio pintando um quadro com folhas verdes. Eu olhei para a imagem e vi as folhas se movendo com o vento, o que que me levou ao cinema."Ao fim da entrevista, quando perguntado sobre a fórmula para a felicidade, Lynch toma uma caneta, desenha uma rosca e diz, enigmático: "mantenha seus olhos no donut, não no buraco".

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