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A obra de Stanley Kubrick é repleta de filmes marcantes, assim como de curiosidades e detalhes menos conhecidos do público. Leia os textos abaixo e confira mais informações sobre cada filme (com exceção de Fear and Desire, todos os longas de Kubrick estão disponíveis em DVD no Brasil).
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Fear and Desire (1953)
Primeiro longa-metragem de Kubrick, o filme mostra um grupo de soldados que combate atrás de linhas inimigas em uma guerra indeterminada. Com toques surreais e alegóricos, Fear and Desire padece de recursos técnicos paupérrimos - o elenco era amador e a equipe era formada apenas por Kubrick e sua mulher na época, Toba Metz. Por ter os direitos autorais vencidos, o filme está disponível em diversas cópias em VHS, DVD e na Internet. Curiosidade: um dos atores é Paul Mazursky, que viria a se tornar um diretor de renome.
A Morte Passou por Perto (Killer's Kiss, 1954)
O segundo longa de Kubrick é um filme policial, que conta a história de um boxeador em fim de carreira (Frank Silvera) que se envolve com o crime organizado. A segunda mulher do diretor, Ruth Sobotka, faz uma ponta como uma bailarina. As cenas de boxe valem o filme, que tem pouco mais de uma hora de duração.
O Grande Golpe (The Killing, 1956)
Sterling Hayden interpreta Johnny, o líder de uma gangue que planeja um grande assalto a um hipódromo durante as corridas de cavalos. A narrativa é inovadora, com diversos saltos temporais e o "mergulho" na vida íntima de cada personagem (inspirando Cães de Aluguel, filme de estréia de Quentin Tarantino). Foi o primeiro filme de Kubrick com uma equipe e atores totalmente profissionais - além de Hayden, o elenco tem Marie Windsor, Elisha Cook Jr. e Joe Turkel (que faria mais dois filmes com Kubrick). O diretor de fotografia era Lucien Ballard, com quem Kubrick teve brigas homéricas durante a produção.
Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 1957)
Primeiro sucesso de crítica e público da carreira de Kubrick, o filme conta a história do coronel francês Dax (Kirk Douglas), que protesta contra uma missão suicida que lhe é confiada na Primeira Guerra Mundial. Após o fracasso de sua ofensiva, três de seus comandados são sentenciados à morte. O destaque são as cenas de batalha, com longos passeios de câmera dentro das trincheiras, e o momento da execução dos soldados. Foi neste filme que Kubrick conheceu a atriz Christiane Harlan, com quem se casaria depois das filmagens. Considerado ofensivo aos militares, o filme acabou barrado na França, Alemanha e Espanha.
Spartacus (1960)
Após ser dispensado por Marlon Brando do faroeste A Face Oculta (1961), Kubrick foi contratado por Kirk Douglas como diretor deste épico depois da demissão de Anthony Mann. O filme mostra como o escravo Spartacus liderou uma revolta contra os romanos no início da era cristã. Mesmo dirigindo um elenco de astros (Douglas, Laurence Olivier, Charles Laughton, Jean Simmons, Peter Ustinov e Tony Curtis), Kubrick ficou contrariado com as interferências de Douglas no filme, o que causou diversas brigas durante a filmagem. Os destaques são as cenas de luta de gladiadores e da batalha dos escravos contra os romanos. Curiosidade: a cena em que Antonino (Curtis) dá banho em Crasso (Olivier) foi cortada na época do lançamento. A versão restaurada em 1991 traz a cena, mas Olivier é dublado por Anthony Hopkins. O roteiro é de Dalton Trumbo, integrante da lista negra da "caça às bruxas" nos anos 50.
Lolita (1962) Baseado no polêmico livro de Vladimir Nabokov, o filme mostra como o professor Humbert Humbert (James Mason) se apaixona pela pré-adolescente Lolita (Sue Lyon). Ele se casa com a mãe da menina (Shelley Winters), que também é cobiçada pelo dramaturgo Claire Quilty (Peter Sellers). Para lançar o filme, Kubrick foi obrigado a deixar implícitas todas as referências sexuais do roteiro (escrito pelo próprio Nabokov). Apelando à curiosidade e à polêmica gerada pelo livro, o slogan do filme era "como eles conseguiram fazer um filme de Lolita"?
Dr. Fantástico (Dr. Strangelove, or: How I Learned Stop Worrying and Love the Bomb, 1964)Considerado por muitos o melhor filme de Kubrick, Dr. Fantástico conta a história de um general americano (Sterling Hayden) que, trancado em uma base militar junto de um militar britânico (Peter Sellers), ordena um ataque nuclear contra a União Soviética, em plena Guerra Fria. Temendo as conseqüências de uma possível guerra, o presidente (Sellers) reúne sua cúpula militar - além do cientista Dr. Fantástico (Sellers novamente), consultor do governo para assuntos nucleares. A idéia de Kubrick era fazer um filme de suspense (baseado no livro Red Alert, de Peter George), mas ele mudou de idéia e resolveu dirigir uma comédia de humor negro (o roteiro teve como co-autor o humorista Terry Southern). Recheado de cenas clássicas, o longa tem como ponto alto o cenário da Sala de Guerra e a mão mecânica de Dr. Fantástico, que tem "vida própria" e tenta estrangulá-lo. Curiosidade: era o filme preferido de Elvis Presley.
2001, Uma Odisséia no Espaço (2001: a Space Odyssey, 1968)
É talvez o filme mais célebre de Kubrick, pelo qual recebeu o único Oscar de sua carreira (como supervisor dos efeitos especiais). Percorrendo milhares de anos na história do homem, o filme mostra uma equipe de astronautas enviados em uma missão secreta a Júpiter. A viagem quase é sabotada pelo robô HAL 9000, que controla a nave. O roteiro foi escrito por Kubrick e pelo autor de ficção científica Arthur C. Clarke. Seu final enigmático e "lisérgico" é alvo de diversas teorias até hoje, assim como o significado do monolito negro que surge em diversos momentos da trama. Curiosidade: a versão original do filme continha um trecho inicial em preto-e-branco, no qual cientistas ponderavam sobre a existência de vida extraterrestre. A cena, assim como outras, foi cortada pelo próprio Kubrick durante uma viagem de navio dos EUA até a Inglaterra, após a pré-estréia em Nova York.
Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971)
Baseado em um livro de Anthony Burgess, o filme conta a história de Alex (Malcolm McDowell), o líder de uma gangue de adolescentes que estupram, roubam e espancam rivais em uma Londres do futuro. Preso por assassinato, Alex é cobaia de uma nova técnica de "reeducação" que elimina todos os seus instintos "maus". Considerado violento demais para a época, Laranja Mecânica foi proibido em diversos países - inclusive no Brasil, onde, anos depois, ganhou uma versão censurada com bolinhas pretas encobrindo as genitálias das personagens. Após uma onda de violência supostamente inspirada pelo filme (e de ameaças de morte contra si e sua família), Kubrick baniu o filme no Reino Unido. O banimento durou toda a sua vida. A trilha sonora de Walter Carlos traz arranjos eletrônicos para clássicos de Beethoven e Rossini, entre outros.
Barry Lyndon (1975)
Ryan ONeal vive o personagem-título, um jovem irlandês que encontra a chance de enriquecer facilmente ao casar com a viúva de um lorde na Inglaterra do século XVIII. Baseado em romance de William Makepeace Thackeray, o filme é um dos grandes triunfos de Kubrick no aspecto técnico. O diretor praticamente não usou refletores artificiais para iluminar as cenas: assim, ele usou lentes especiais criadas pela Zeiss que captavam imagens à luz de velas. O resultado belíssimo, além da reconstituição de época, rendeu quatro Oscars (fotografia, direção de arte, figurino e trilha sonora adaptada). Barry Lyndon foi votado como o segundo filme mais bem fotografado da história do cinema - o primeiro foi Lawrence da Arábia (1962), de David Lean.
O Iluminado (The Shining, 1980)
Jack Nicholson interpreta um escritor que aceita ser o zelador de um hotel isolado durante o inverno rigoroso. Ele enlouquece aos poucos - assombrado pelos fantasmas do local - e tenta matar sua mulher (Shelley Duvall) e filho (Danny Lloyd), que é paranormal. Kubrick fez o filme baseado no livro de Stephen King - cujos fãs ficaram irados com as mudanças feitas pelo cineasta na história original. Mesmo assim, o longa foi o maior sucesso de bilheteria da carreira do diretor. O making of da produção (feito por Vivian, filha de Kubrick) dá uma amostra da tensão entre o cineasta e a atriz Shelley Duvall, que era obrigada a repetir diversas vezes as mesmas cenas, até agradar o diretor. Vale observar a onda de sangue que jorra do elevador (a cena foi feita em uma maquete do tamanho de uma caixa de sapatos).
Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987)Dividido em dois segmentos, o filme mostra o treinamento de jovens americanos para servirem como fuzileiros navais na Guerra do Vietnã e os combates realizados durante a Ofensiva do Tet (1968). O sargento instrutor é interpretado por R. Lee Ermey, que originalmente era um consultor técnico da produção, por ter sido ele mesmo um sargento do exército. Kubrick se convenceu a usá-lo no filme por achar hilários os xingamentos que ele dirigia a seus comandados - os palavrões foram mantidos no filme. Curiosidade: a cidade destruída pelas tropas americanas no filme era, na vida real, uma instalação de gás abandonada pelo governo britânico.
De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999)Inspirado no livro Traumnovelle, do escritor austríaco Arthur Schnitzler, o filme mostra Tom Cruise como um médico bem-sucedido de Nova York, casado com uma bela mulher (Nicole Kidman), mas que resolve experimentar a infidelidade, primeiro com uma prostituta e, depois, em um seleto clube que acaba por fazê-lo sentir-se ameaçado. Último filme dirigido por Kubrick, foi finalizado dias antes de sua morte. As cenas mais ousadas de nudez e sexo foram adulteradas digitalmente, para que o filme fosse liberado pela censura dos EUA (no resto do mundo, o filme passou sem as mudanças). Originalmente, Kubrick pensou em ter Alec Baldwin, Kim Basinger, Harvey Keitel e Jennifer Jason-Leigh no elenco.

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